A máfia do emplacamento em Osasco
Já tem três semanas que comprei a Lead para minha mulher, mas só hoje conseguimos emplacar a moto para começar a usar. E acabei descobrindo, da pior forma, a verdadeira máfia que se formou em torno dos veículos em Osasco.
A história começa na concessionária. Ao comprar a moto, eu tinha a intenção de contratar um despachante para resolver tudo para mim, mas o vendedor e a minha mulher acabaram me convencendo a economizar os 300 reais de honorários, e a resolver eu mesmo toda a burocracia da documentação da moto.
Ao chegar ao CIRETRAN da minha cidade, o sujeito que atende no balcão não foi nem um pouco prestativo. Eu perguntei a ele como funciona, e ele falou “você tem que ir num despachante montar um “processo” e me trazer aqui”. Eu insisti em saber como é esse tal “processo”, e ele disse “é só trazer toda a documentação preenchida!”, já meio impaciente.
Como vi que o sujeito não ia colaborar, fui procurar informações na Internet, e encontrei no site do DETRAN de São Paulo as informações. É uma lista de documentos relativamente simples… Nota fiscal da moto, decalque do chassi, os comprovantes de recolhimento das taxas e impostos… Pensei que não é tão difícil assim, mas a dificuldade já começou ao encontrar o tal “formulário RENAVAM” pra preencher. Diz lá que pode ser comprado em qualquer papelaria… Mas nenhuma papelaria que procurei tinha o tal formulário.
Fui então a um despachante, em frente ao CIRETRAN, e perguntei sobre o formulário. A moça disse que tinha, mas não vendia ele em branco, só preenchido, e que custa 25 reais pra preencher. Pedi para dar uma olhada no formulário, apenas pra saber se valia os 25 reais, e tomei um susto. Um formulário gigante, com campos que eu não saberia NUNCA como preencher. E dada a vontade do funcionário do CIRETRAN, certamente o campo seria preenchido errado. Eu resolvi pagar para o despachante então montar o tal “processo” pra mim.
Depois de 30 minutos, a mocinha volta com o formulário preenchido, quatro guias para pagar no banco, cópias de documentos e tudo mais necessário, dentro de uma pasta improvisada com papel almaço, tudo colado e grampeado de um modo milimetricamente organizado. Inclusive, já saí do despachante sabendo qual a placa da moto!
Fui até o banco, paguei as guias e anexei os comprovantes no “processo”, e então, levei o processo para o balcão do CIRETRAN. O sujeito deu uma risadinha e protocolou o processo, me devolvendo apenas um papel com o recibo do pedido de placa e a data do emplacamento: 5 de Março.
Pois bem, uma semana se passou e no dia 5 eu estava no local da lacração, conforme combinado. Chegando lá, havia um bar, e dentro do bar, tinha um sujeito atrás de uma escrivaninha, e muitas placas de carro e motos empilhadas atrás dele. Uma fila enorme se formava desde a mesa até fora do bar, e cada uma das pessoas segurando o seu protocolo de emplacamento.
O sujeito que atendia lá gritava lá de dentro, dizendo que a fábrica não entregou as placas das motos, e que era pra voltar na semana que vem. Eu cheguei perto e o sujeito, com cara de preocupado, disse que houve uma troca da empresa que fabrica as placas em todo o estado (exceto na Capital São Paulo), e que por conta dessa troca, a nova empresa ainda não tinha se ajustado para fazer as placas. Ok, mas E EU COM ISSO? Pra que eu paguei a taxa de emplacamento? Fui feito de palhaço, pois fui com a moto sem placa até o local da lacração e fui embora de lá na mesma condição, correndo o risco de ser parado pela polícia e ter a moto apreendida por estar rodando sem placa.
Esperei até a outra semana, e fui lá, dessa vez de Yes, para ver se a placa havia chegado. O local estava ainda mais cheio, e depois de meia hora na fila, fiquei sabendo que a placa ainda não estava pronta. Perguntei se havia um telefone onde eu pudesse ligar pra obter essa informação, e é claro que não há.
Fiquei voltando lá todos os dias, como palhaço que sou, até que na sexta-feira, uma semana depois do prazo combinado, tive a resposta positiva sobre a chegada da placa. Feliz, perguntei até que horário funciona o emplacamento, e o sujeito me disse “até as 18h00”. Ok, dá tempo de eu ir trabalhar, saio as 16h00, pego a moto e chego lá umas 16h30… E assim fiz. Chegando lá, o sujeito disse “Só até as 16h00”. COMO ASSIM? Ai ele, pacientemente explicou que a fila do emplacamento leva em média 2 horas para correr, então, eles interrompem a entrada de gente na fila as 16h00, para que as 18h00 todos os funcionários estejam livres para ir embora. E EU COM ISSO? Porque raios não me falou isso de manhã? Acha que eu tenho o dia todo pra resolver esse tipo de palhaçada? Enfim… Não adiantou espernear… Voltei pra casa de novo com a moto sem placa, e passei o fim de semana assim.
Hoje, finalmente, minha mulher foi lá e conseguiu emplacar. Ficou 3 horas na fila, depois que quatro pessoas passaram na frente dela, pagando um “café” para o sujeito que faz a lacração. Na vez dela, ainda, o sujeito não queria emplacar, pois disse ser “difícil” emplacar a Lead, pois ele teria de deitar no chão para alcançar a alça onde ele prende o lacre, que fica em baixo do banco. Mais uma vez pergunto: E EU COM ISSO? Não está paga a taxa de emplacamento? Não é pra isso que ela serve?
Essa é a terceira moto zero que eu compro. Na Twister e na Falcon que tive antes, eu paguei o despachante pela comodidade de não ter que me preocupar com esse tipo de coisa. Peguei a moto no dia combinado na própria concessionária, já emplacada e com documento. Não imaginei que fosse tão difícil assim ter uma simples placa na moto! É a velha história de criar dificuldades para vender facilidades. Num país sério, isso não aconteceria. Quem é consumidor, gasta dinheiro e paga impostos, tem direito a serviços públicos de qualidade. Aqui em São Paulo imagino ser o pior dos cenários, pois até as placas são fornecidas pelo governo!
No Paraná, existem empresas privadas que fabricam placas. EXISTE CONCORRÊNCIA, o que melhora muito a qualidade de qualquer coisa. Uma vez, numa viagem para Foz do Iguaçu, acabei destruindo a placa da Falcon em um acidente. Mas a solução foi simples: Encostei a moto numa empresa de placas no centro da cidade, paguei 40 reais e em 10 minutos, fabricaram a placa nova e instalaram na moto. Simples, fácil e indolor. Ter de esperar uma placa ser fabricada não-sei-onde, pela única empresa que presta esse serviço no estado é uma incoerência gigante.
Uma forma de simplificar o processo seria usando a Internet! Imagine se o cidadão pudesse entrar no site do DETRAN do estado dele, onde há um formulário eletrônico em que ele preenche os dados do veiculo a ser licenciado. Lá mesmo, o sistema já geraria o número da nova placa, as guias para serem pagas no banco, e um número de protocolo. Bastaria o cidadão imprimir o protocolo e os comprovantes, tudo em casa, e levar até o DETRAN ou CIRETRAN mais próximo, onde o documento e a placa já estariam prontos. Dessa forma, seria possível emplacar um veículo no mesmo dia em que se compra ele, ou no máximo, no dia seguinte. Não seria mais necessário o despachante para preencher documentos nem o funcionário público para digitar esses documentos no sistema do DETRAN, afinal, já estaria tudo digitado pelo próprio dono do veículo.
Difícil de fazer? Não acho. Fizeram algo muito mais complexo para declarar o imposto de renda. Acho que falta é vontade política para isso. Essa é a melhor forma de manter todo mundo mamando no governo. Para arrecadar, tudo pode.
Você já teve algum problema desse tipo?