Comportamento dos motores – Parte 1
Existe um tipo de motociclista muito comum, que sabe tudo sobre todas as motos disponíveis no mercado, mesmo sem nunca ter andado nestas motos, é o famoso “Interpretador de ficha técnica”.
Odiado por alguns, aclamado por outros, a verdade é que todo mundo dá seus pitacos sobre o funcionamento de uma moto (ou carro, barco, avião, computador, celular, e qualquer outro tipo de aparelho ou máquina). E para dar palpites mais precisos, é necessário conhecer a ficha técnica do que se está avaliando. E é desta ciência que vou falar hoje.
Sim! A verdade é que há uma ciência nisso, e que dependendo do nível de conhecimento e experiência da pessoa que vai fazer a análise (ou palpite, como queira), é possível obter resultados bem próximos da realidade. Para dar palpites mais certeiros, é importante que o analista de ficha técnica já tenha experimentado uma grande variedade de motos. Não adianta querer chutar o comportamento de uma moto tendo andado apenas em um ou dois modelos diferentes de motos, pois não há referência, não há como comparar. É importante que ele conheça pelo menos uns 3 modelos de cada categoria e cada faixa de cilindrada, e isso dá pelo menos umas 20 motos diferentes, desde 125cc urbanas até 1000cc esportivas, passando por customs de grande e de pequeno porte, scooters e motos [big|maxi]trail. O analista já tem de ter experimentado todos os tipos de engenharia de motores, de 1, 2, 3, 4 ou 6 cilindros, em linha, em V2, V4, Boxer, em L, DOHC, OHC, OHV, refrigerados a ar ou a água, alimentados por injeção eletrônica ou carburados… Enfim, todas as possibilidades.
A partir de uma grande biblioteca de experiências, podemos então dar palpites mais acertados sobre as motos que ainda não conhecemos, para isso, usando apenas a ficha técnica como referência.
Então, nesta série de artigos, vou falar um pouco sobre cada característica que um motor pode ter, e o impacto destas características no comportamento dos motores. Vou explicar, por exemplo, porquê a Shadow 600 tem um motor de 600 cilindradas e 2 cilindros em V e gera apenas 33 cavalos, enquanto o motor de 650 cilindradas em 2 cilindros em V da Comet GT 650R gera 90 cv… quase o triplo, tendo apenas 50cc a mais.
Mas hoje, vou apenas enumerar os principais fatores que alteram o comportamento dos motores. São eles:
- Tipo de ciclo (2 tempos ou 4 tempos)
- Capacidade cúbica (Cilindradas)
- Taxa de compressão
- Quantidade dos cilindros
- Disposição dos cilindros e do virabrequim (em V, em L, em W, em linha, Boxer)
- Cabeçote (Quantidade de válvulas, anglo de abertura e fechamento, acionamento)
- Alimentação (Carburador ou Injeção Eletrônica, tamanho e capacidade)
- Sobrealimentação (Sistema de indução forçada, Turbo, Blower, Nitro)
- Escapamento (Diâmetro, tamanho, quantidade, itens restritivos)
- Sistema de refrigeração (ar, óleo, liquida, forçada ou natural)
- Combustível
Todos estes itens estão intimamente ligados, e todos interferem ao mesmo tempo tanto no comportamento geral dos motores como uns com os outros. Mas isso vou explicar nos próximos artigos.