Brasil: Refugo tecnológico
O Brasil (e o mundo de um modo geral) passa por um momento muito curioso com relação a tecnologia dos transportes.
Quem acompanha o Motos Blog sabe que eu sou um grande fã das motos elétricas. A verdade é que gosto da ideia de qualquer tipo de veículo movido a eletricidade, seja Moto, Carro, Barco, Avião, Caminhão, etc. Sempre acreditei na tecnologia de propulsão elétrica para os nossos veículos do dia a dia, e acho que com a evolução tecnológica, cada vez mais produtos viáveis serão lançados.
O problema, no caso do Brasil, é que a infraestrutura de energia elétrica não comportaria uma mudança muito radical na matriz energética. Existem estudos que dizem que nossa matriz energética não comportaria uma mudança. Se apenas 5% da frota de carros brasileiros fosse substituída por carros movidos por energia elétrica, não haveria energia suficiente para abastecer a todos.
O que eu acho curioso é que o resto do mundo está em um movimento de mudança. A matriz energética do mundo está mudando. Os países estão ficando cada vez menos dependentes do petróleo, em especial os Estados Unidos, que agora percebem que fazer guerra para conseguir petróleo custa muito caro, e que é mais barato procurar outras fontes de energia. Eles estão dando incentivos para a compra, com subsidios que chegam a 1/3 do valor do veículo para quem decide comprar um carro elétrico. O governo injeta dinheiro nas empresas automotivas, para pesquisa e devenvolvimento na área, e também investe em novas formas de geração de energia elétrica, principalmente nas que aproveiram a energia solar e eólica. Japão e toda a Europa também estão investindo pesado nisso.
Enquanto isso, no Brasil, estamos festejando a descoberta do Pré-sal, aumentamos a cada dia a produção de petróleo, o que seria ótimo, se não fosse um detalhe: A demanda por petróleo diminuiu, e vai diminuir ainda mais. Seremos campeões em produzir o que ninguém mais precisa.
Dito isso, não vejo aqui no Brasil uma grande chance da tecnologia de veículos elétricos se popularizar. Não é de interesse do governo que a demanda por petróleo caia, já que ele é um grande acionista da Petrobras. Além disso, não vemos investimentos contínuos em geração de energia elétrica limpa. A usina Hidrelétrica de Belo Monte, que é o último foco de atenção, dificilmente sairá em menos de 10 anos (se sair), e ainda assim, mesmo sendo das maiores do mundo, sozinha, não atenderia uma eventual e pequena mudança de frota no país.
Não há razão para o governo conceder incentivos ao consumo de energia limpa, pois não há produção suficiente de tal energia. O que é uma pena, pois eu iria gostar de ver por ai carros e motos elétricas, andando em silêncio e sem poluir.
Há também mais um problema que, provavelmente, evita que o governo apoie a ideia dos veículos elétricos. Não faria sentido, por exemplo, um programa como o da inspeção ambiental veícular que acontece em São Paulo. Veículo elétrico não polui, portanto, não precisaria fazer a inspeção, não teria de pagar a taxa da Controlar, não seria multado por não ter feito a vistoria e portanto, reduziria a arrecadação. Além disso, não faria sentido estender o rodízio de veículos aos que são elétricos, pois a justificativa do rodízio é justamente a de reduzir a poluição do ar. Ou seja, menos arrecadação com multas.
Também, sobre a energia elétrica incide menos imposto do que sobre os combustíveis. E como o próprio consumo é mais eficiênte, o governo arrecadaria apenas uma fração do que arrecada hoje. Seria um verdadeiro tiro no pé (do governo) conceder incentivos a veículos elétricos.
Não acha?