Como é feito o cálculo de um seguro?
Muito se discute sobre os valores abusivos para os seguros das motos, mas pouca gente sabe o que realmente influencia os preços dos seguros. Saiba um pouco sobre isso a seguir.
A premissa de todo seguro é obter uma previsão estatística sobre quais as chances de um risco se tornar um sinistro, ou seja, quais são as chances de, por exemplo, determinada moto ser roubada, ou se envolver em algum acidente.
Todo sinistro gera um prejuízo para a seguradora, e por este motivo é que ela deve saber cobrar o preço certo de cada segurado para que no final das contas, dentre todo o universo de segurados, o valor pago pelos sinistros não seja superior ao valor arrecadado com os prêmios.
Cobrar um valor alto de todos os segurados é uma forma de evitar prejuízos, já que a arrecadação aumenta, melhorando a margem de lucro potencial. Porém, a concorrência existe e as seguradoras não podem se dar ao luxo de cobrar um valor alto demais, sob pena de perder o cliente para o seu concorrente que oferece um valor menor.
Deu para perceber que neste ramo cobrar o valor certo é a chave para o sucesso, não é mesmo?
Cada seguradora possui seus próprios modelos matemáticos para poder definir qual é, de fato, o preço que deve ser cobrado para um risco. Esses modelos matemáticos são o segredo de negócio de cada empresa, e elas não revelam, pois isso permitiria ao mercado, na melhor das hipóteses, copiar o modelo, e na pior, contratar seguros “moldados” de modo que o valor do prêmio seja inferior ao real risco. A chance de fraude aumentaria muito, e isso é prejuízo certo.
Mas de um modo geral, estes modelos matemáticos usam dados estatísticos diversos, para determinar o risco de um seguro. Estes dados podem ser obtidos da própria experiência da seguradora (sinistros anteriores), dos bancos de dados públicos, como polícias estaduais e federal, de acordos de compartilhamento de dados entre as seguradoras, e até mesmo dos fabricantes de veículos e entidades de representação, como ABRACICLO e FEBRANAVE.
Ou seja: O modelo matemático e as estatísticas são as joias das seguradoras, pois é usando estes dois artefatos é que conseguem definir os riscos e, consequentemente, o preço que podem cobrar pelos seguros.
Como funciona
Como falei, o modelo matemático se difere de seguradora para seguradora, mas de uma forma geral, o preço do seguro é definido através de “relatividades”, que são fatores que aumentam ou reduzem o valor do seguro a medida que vão sendo aplicados ao prêmio das coberturas.
Cada relatividade é composta por dois números: Custo e Frequência. O custo é, de fato, o custo monetário que a relatividade possui quando há um sinistro, e a “frequência” é a frequência com que este sinistro específico ocorre, baseado em um determinado universo.
Para ilustrar o nosso cálculo, vou definir aqui um seguro simples de uma Kawasaki Z750 2012 0Km na região de Santo André/SP, feito por um Homem de 20 anos. Vamos fazer o cálculo apenas da cobertura básica.
Todo modelo de veículo possui uma taxa básica, que define o valor básico do seguro baseado em seu valor de mercado. Essa taxa é definida através das estatísticas específicas para este modelo, sejam do histórico da seguradora, ou de outros dados obtidos no mercado.
Neste exemplo, vamos supor que a taxa da Z750 2012 é de 0,232, e o seu valor de mercado é de R$ 33.000,00. Multiplicando estes dois valores, obtemos o prêmio básico de R$ 7.656,00. É a partir deste valor que iremos calcular o preço do seguro.
Para o próximo passo, aplicam-se as relatividades relacionadas a este risco específico, ou seja, entram as características que diferenciam os seguros entre os segurados.
Os dados estatísticos desta seguradora dizem que de todos os segurados desta região, 0,0000909 sofreram sinistros, e que o custo médio destes sinistros foi de R$ 20.000. Multiplicando estes dois valores, obtemos uma taxa de 1,818. Portanto, o risco da região Santo André é de 1,818.
Aplicando-se esta taxa ao prêmio que já temos calculado de R$ 7.656,00, temos um prêmio de R$ 13.918,61.
Os dados também mostram que, de todos os veículos 0Km segurados, apenas 0,00003 sofrem sinistros, com custo médio de R$ 30 mil. Portanto, a taxa da relativade “0Km” é de 0,9.
Aplicando-se a taxa do prêmio atual de R$ 13.918,61, temos um valor de R$ 12.526,75.
Deu para entender como funciona, não é mesmo?
A cada relatividade, o valor do prêmio vai sendo alterado. Depois que todas são aplicadas, o prêmio ainda sofre a inclusão da comissão do corretor e de taxas administrativas.
O roteiro de cálculo ficaria mais ou menos assim:
Relatividade | Taxa | Prêmio |
Kawasaki Z750 2012/2012 | R$ 33.000,00 | R$ 33.000,00 |
Taxa base (Z750 2012) | 0,2320 | R$ 7.656,00 |
Taxa Região (Santo André) | 1,8180 | R$ 13.918,61 |
Zero Km (Sim) | 0,9000 | R$ 12.526,75 |
Sexo (Masculino) | 1,0021 | R$ 12.553,05 |
Idade (20) | 1,1029 | R$ 13.844,76 |
O prêmio, neste cálculo fictício, ficaria então em R$ 13.844,76 para a cobertura básica. As outras coberturas do seguro seriam calculadas de forma similar, exceto pelas taxas, que são diferentes.
Existem muitas relatividades, muitas mesmo. Nesta conta entra a região do risco, se o segurado tem ou não garagem em casa ou no trabalho, se a moto é zero km ou não, se ela tem rastreador, alarme, a idade e o sexo do principal condutor, se há outros condutores, o tipo de moto, a marca, a classe de bônus, se o segurado tem ou não outro veículo além da moto… Enfim, são muitas, muitas as variáveis que podem influenciar no valor do seguro, para mais ou para menos.
A principal, sem sobra de dúvida, é a região. Se na sua região há muitos roubos, obviamente a seguradora vai cobrar mais de você, afinal o seu risco é maior.
E como faço para ter um seguro de moto barato?
O único jeito honesto de reduzir o valor do seguro é reduzindo o seu risco. Ou seja, optando por um modelo de moto menos visado, morando em uma região onde menos sinistros acontecem, incluindo dispositivos anti-furto, sendo mais velho, tendo mais “anos de carteira”, tendo outro veículo além da moto, não permitir que outros condutores usem a moto, e evitando ter sinistros para aumentar a classe de bônus. Tudo o que a seguradora olha, você pode olhar também.
É claro que você não pode mudar seu sexo ou sua idade, mas pode escolher, por exemplo, o modelo da moto, ou a região da próxima casa onde pretende morar, ou se vai permitir que menores de 25 anos pilotem sua moto.
O corretor também influencia no preço. Algumas seguradoras possuem preços diferenciados para os corretores de acordo com sua “classificação”. Essa classificação também é definida por vários fatores, mas os principais são a quantidade de sinistros de seus clientes, e a quantidade de seguros que ele vende. Bons corretores aos olhos da seguradora são aqueles que vendem bem e possuem poucos sinistros em sua carteira. Isso reduz o preço do seguro. O valor da comissão também reduz bastante o valor do seguro, mas é impossível fugir dela, pois a SUSEP garante um percentual mínimo de comissão em todos os contratos de seguro. Os corretores tem margem para negociar. Basta pedir.
Vale ressaltar que este é um modelo fictício de cálculo, que provavelmente é diferente nas diversas seguradoras do mercado. Além disso, ele está extremamente simplificado, faltando incluir ai as outras coberturas, as taxas, IOF e comissão. E vale lembrar que nem adianta solicitar o roteiro de cálculo do seu seguro ao seu corretor… Ele provavelmente não tem acesso a esta informação.