Rastreador com seguro – A verdade
A cada dia que passa, novas empresas de rastreamento estão surgindo e operando serviços de monitoramento com seguro. Saiba tudo sobre isso.
Todos os dias, recebo e-mails de pessoas perguntando sobre os rastreadores com seguro, e cada vez com uma empresa diferente. E até recentemente, uma destas empresas entrou em contato comigo para anunciar no Blog. Vamos entender o que está acontecendo.
Os rastreadores estão na moda. Eles aparecem como uma solução de baixo custo para prevenir e coibir o roubo e furto de veículos, para o controle de frotas e para baratear o preço do seguro. Já fiz um texto sobre os rastreadores, mas hoje vou falar sobre o serviço de monitoramento e o “seguro” que algumas empresas estão vendendo anexados ao rastreador.
História
Primeiramente, é importante deixar claro que a maioria destas empresas que oferecem seguro junto com o rastreador, na verdade NÃO SÃO SEGURADORAS, e tampouco o serviço de “seguro” é um seguro de verdade. Eles criam um “contrato de proteção” ou algum outro nome parecido, onde a palavra “seguro” simplesmente não é mencionada, de modo a não caracterizar aquilo como uma apólice de seguro. Nem mesmo termos como “Apolice”, “Sinistro”, “Indenização”, “Premio” e os demais termos relacionados a um contrato de seguro são citados, sendo todos eles substituídos por outras palavras de significado parecido, como “Contrato”, “Evento”, “Pagamento” e “Custo”, e por ai vai.
O motivo disso é que apenas seguradoras podem operar seguros. A SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) é um órgão do governo ligado ao Ministério da Fazenda, é responsável por fiscalizar todas as operações de seguros no Brasil. É claro que essas empresas de “Proteção” não são seguradoras, e portanto, não podem operar seguros e não tem sua operação fiscalizada pela SUSEP, e por isso vendem um contrato de seguro que não é um seguro.
Na prática, toda esta manobra é para dificultar a fiscalização e criar meios jurídicos para tornar o negócio que é ilegal em algo que possa ser vendido por algum tempo antes que seja fechado por ordem judicial.
No inicio, cerca de 3 anos atrás, a primeira empresa a operar este tipo de seguro o fazia apenas para roubo e furto, ou seja, ela instalava um aparelho na sua moto, e se quando sua moto fosse roubada, o aparelho não fosse capaz de encontrá-la, a empresa indenizava o cliente no valor da motocicleta, limitado a um determinado valor estipulado no contrato.
Neste caso, a justificativa é: Indenizar o cliente pela ineficiência do aparelho. É um seguro? Não… É apenas um contrato onde o objetivo central é garantir a eficiência do aparelho que vai instalado na moto. Se você parar para pensar, não é um contrato tão absurdo… Até dá para dizer que é legal.
O problema é que, de lá para cá, muitas outras empresas começaram a entrar neste mercado, oferecendo valores mais baixos de prêmio e coberturas ainda maiores, como incêndio, colisão, terceiros e até mesmo alagamento. Essas coberturas não podem ser vinculadas diretamente ao aparelho rastreador, não é mesmo? Que culpa tem o rastreador se você colidir sua moto? Nestes casos, fica claro ai que trata-se de uma operação de seguro.
Rastreadores
Com a popularização dos rastreadores autônomos, principalmente os feitos na China, muitas pessoas viram uma grande oportunidade de ganhar dinheiro vendendo o serviço de monitoramento por um preço baixo. Aqui no Motos Blog mesmo tivemos excelentes comentários do leitor Alex, que possui o modelo TK-104. Trata-se de um aparelho que combina um celular e um GPS e que fornece recursos para encontrar a moto (ou carro, caminhão, etc) em qualquer situação. O aparelho foi feito para ser operado pelo próprio dono, que pode acessa-lo de qualquer celular ou computador com internet e encontrar ou bloquear o veículo caso queira.
Criar uma pequena infraestrutura para operar o monitoramento de algumas centenas deste tipo de aparelho não é complicado, exige apenas um computador com internet, um telefone e um pequeno conhecimento técnico. Então as pessoas começaram a criar empresas que prestam este serviço, comprando da china e revendendo estes aparelhos com o serviço de monitoramento.
Os rastreadores realmente funcionam. Em uma situação ideal, onde o sinal de GPS e Celular estão em boas condições, o ladrão não souber desarmar o sistema e o monitoramento for bem feito, é plenamente possível recuperar a moto. Este aumento na chance de recuperação despertou o interesse das empresas de “cooperativa de proteção”, que viram uma forma de vender o seu seguro barato para um público que precisa justamente disso: Um seguro barato. São proprietários de motos de baixa cilindrada e de carros antigos, onde o seguro por uma seguradora “de verdade” se torna inviável, ou mesmo impossível.
Então, essas cooperativas firmam parcerias com as empresas de monitoramento, e criam os produtos de Seguro + Rastreador que tanto vemos por ai.
Mas funciona?
Sinceramente, não sei. Conheço algumas pessoas que possuem este tipo de rastreador e tiveram suas motos roubadas. Em um dos casos, a moto foi recuperada, em outros 2, as pessoas foram indenizadas, e no último, a pessoa não conseguiu receber a indenização. Nos 4 casos, eram 3 empresas diferentes, e a mesma empresa que não pagou ao rapaz pagou ao outro, então fica difícil dizer o que é certo e o que não é. Só sei que é ilegal. Se fosse legalizado, bastaria ligar para a SUSEP e em menos de uma semana o problema estaria resolvido.
E os seguros legalizados?
Existem seguradoras legalizadas que operam seguros com rastreador. Nestes casos, não há problema algum. O rastreador entra na apólice como um Dispositivo Anti-furto, e a presença deste contribui para diminuir a sinistralidade do seguro, e portanto, o valor do prêmio. Algumas seguradoras só aceitam determinados tipos de veículos se estes possuirem um rastreador de uma empresa homologada por eles. É o caso da seguradora Indiana com a Suzuki GSX 650F, ou da Mitsui com o Palio Adventure Locker. A Cardif é outra seguradora que possui um seguro de auto sem análise de perfil, condicionado a instalação de um rastreador.
Conclusão
Esse tipo de seguro feito por cooperativas é como o jogo do bicho: É ilegal, mas funciona e geralmente paga direitinho. Você só não tem para quem reclamar caso não paguem. Sendo ilegal ou não, cada um tem o direito de escolher o que acha melhor para si e a base disso é a informação. Não se deixe iludir por propostas imperdíveis e preços absurdamente baixos. Saiba de todos os riscos antes de tomar uma decisão, afinal de contas, só você sabe o quanto teve que trabalhar para ter seus bens.