O que o mercado de motos (no Brasil) pode aprender com o de tecnologia
O mercado de tecnologia tem muito a ensinar ao mercado de motocicletas, principalmente no Brasil.
O Brasil vive uma realidade econômica nunca antes vista. A renda das pessoas tem aumentado, e o acesso aos bens de consumo tem se tornado mais fácil. Paralelo a isso, a indústria de um modo geral vê a cada dia surgirem novos concorrentes de peso, que ameaçam a hegemonia antes conhecida por todos.
Para manter-se no topo, as empresas devem apostar em inovação, tecnologia e na simplicidade de seus produtos. Mas apenas isso não é suficiente, pois de nada adianta um produto maravilhoso que chega tarde ao mercado, depois que todos os concorrentes já lançaram seus equivalentes, ou pior: Um produto que ninguém precisa, ou “sabe que precisa”.
O mercado de tecnologia tem se adaptado bem a este fenômeno. A Apple, por exemplo, faz suas apresentações duas vezes por ano, antecipando os lançamentos. O iPhone foi anunciado 5 meses antes de começar a ser vendido, em 2007, e durante estes 5 meses as pessoas ficaram com a expectativa de comprar o tal aparelho até então desconhecido.
Durante estes 5 meses, quem pretendia trocar de celular acabou adiando a troca, para dar preferência a produto inovador, da marca que era novata na produção de aparelhos celulares, mas já era consagrada por produzir produtos de ótima qualidade. Inúmeros fabricantes lançaram smartphones com outros sistemas operacionais antes do lançamento oficial, mas todos tiveram poucas vendas.
Hoje, praticamente qualquer produto tecnológico a ser lançado é anunciado com alguns meses de antecedência. Foi o que aconteceu com o iPhone 4, com os celulares com Windows 8 Mobile (Mango), com o Playstation 3 (isso em 2006!), com o Kinect, com a Nikon D800, e com muitos outros produtos. Em comum, todas a previsões tem: Data, Especificações e Preço. Nós já conseguimos saber antecipadamente o que esperar do produto, e assim, conseguimos decidir antecipadamente onde gastar nosso suado dinheiro.
No mercado de motos, isso raramente acontece. O último exemplo foi o da V-Strom 650 2012, que lá fora teve um pequeno suspense durante 3 semanas. A estratégia só não deu mais certo pois as fotos e especificações oficiais vazaram, e eles acabaram tendo que antecipar o lançamento. No mais, as motos são anunciadas apenas nos salões, como “conceitos”, mas nunca se sabe se aquilo vai vir ao mercado algum dia, nem quanto vai custar.
Aqui no Brasil é ainda pior: As motos simplesmente aparecem na concessionária. Quando muito, são antecipadas apenas algumas semanas antes do lançamento. Não há uma prévia dos lançamentos para o ano todo.
Como a maioria dos projetos vem de fora do país, nós já vemos as motos lá fora e já conhecemos tudo a respeito delas: Especificações, preços, inúmeras fotos… Mas não sabemos sequer se algum dia esses modelos vão vir para o Brasil, e nem quanto custarão caso isso aconteça.
Exemplo prático: A Dafra, que era uma marca pequena até então, trouxe sem fazer alarde a excelente Big Scooter Citycom 300i, fabricada pela Taiwanesa SYM. No início, não vendeu muito bem, afinal as pessoas não confiavam muito no nome “Dafra”, graças aos problemas dos primeiros modelos.
Com o tempo passando, a Scooter passou a receber inúmeros prêmios, e os proprietários cada vez mais divulgam sua satisfação com o produto e recomendam aos amigos. Assim, a Scooter passou a vender mais. Quem antes tinha receio de comprar, agora já tem mais confiança. A Dafra vendeu 2.902 unidades deste Scooter até Dezembro de 2011, apenas 14 meses desde seu lançamento.
Para interromper este fenômeno, bastaria a Yamaha ou Suzuki anunciar que vai lançar daqui “X” meses uma Scooter de 250cc na faixa de R$ 14 mil. Difícil? Tanto a Suzuki quanto a Yamaha poderiam projetar um Scooter do zero em pouquíssimo tempo, mas caso não quisessem, elas já possuem excelentes exemplares no mercado europeu, bastaria importar a produção para cá e começar a vender, e 6 meses já são suficientes para isso.
A Yamaha trouxe, no Salão Duas Rodas do ano passado, a X-MAX 250, um Big Scooter bem bacana. Mas apenas trouxe para exibir. Não disse se vai vender, não disse por quanto, nem quando. É claro que isso não serve para concorrer com ninguém. Que o Scooter existe, todos nós já sabemos, afinal, acompanhamos os lançamentos no exterior. O que nos interessa é: Quando e quanto.
O mesmo acontece com a FZ8, substituta da FZ6 que foi simplesmente descontinuada sem maiores explicações. Nenhuma promessa concreta foi feita, apenas um “vamos ver”, sem nenhum compromisso. Enquanto isso, CB1000R e Z750 estão nadando de braçada.
As pessoas querem expectativa: Se os fabricantes anunciassem antecipadamente alguns lançamentos, inibiriam os lançamentos reais das outras marcas. Um exemplo disso acontece nos EUA. Um fabricante de carros elétricos, “Tesla Motors”, já produz e vende um excelente carro esportivo elétrico, o Tesla Roadster. Ele já produz esse carro a muito mais tempo do que a Chevrolet produz o Volt, mas bastou a Chevrolet anunciar que estava “desenvolvendo” o Volt, para que as pessoas ansiosas por um carro elétrico esperassem pelo lançamento da marca mais conhecida, que levou nada menos do que 4 anos. Se a Chevrolet tivesse ficado quieta durante todo o período de desenvolvimento, a Tesla teria vendido muito mais carros, e certamente seria uma enorme concorrente para a Chevrolet nos dias atuais.
É assim que gigantes como Chevrolet, Microsoft e Apple tentam se manter no topo: Criando expectativa em seus consumidores fieis, evitando perde-los para a concorrência. Já os menores, tentam ganhar estes consumidores com inovação, disponibilidade imediata, bons produtos e preço competitivo. A Samsung, Hyundai e Dafra tem ganhado muito mercado assim.
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