Problemas da Suzuki DL650 V-Strom

Já rodei cerca de 80 mil km em quase 5 anos com a minha V-Strom 650 2010/2011, e acho já conheço a moto bem suficiente para poder falar mais detalhadamente sobre os problemas dela.

É importante ressaltar o seguinte: A V-Strom 650 é uma EXCELENTE motocicleta, por favor não entenda mal este texto, não é um artigo de reclamação, mas sim de informação. O objetivo é alertar as pessoas que possuem ou que estão interessadas em adquirir este modelo específico sobre alguns pontos que vão exigir atenção especial.

Os problemas relatados abaixo se aplicam a V-Strom 650 do primeiro modelo, ou seja, a que foi vendida no Brasil entre 2008 e 2012. A partir de 2013, o modelo foi atualizado e eu não sei dizer se estes problemas foram corrigidos no projeto mais novo.

Manete de embreagem

A Manete (alavanca) de embreagem original da V-Strom 650 é completamente feita de alumínio. O Mancal onde esta alavanca é montada é feito de aço, e o eixo que une as duas peças também é de aço.

Com o uso frequente da embreagem, milhares e milhares de movimentos de apertar e soltar, o alumínio apoiado no eixo de aço acaba se desgastando. O alumínio é um metal bem menos denso que o aço, e sofre muito mais os efeitos de abrasão.

Quase todos os fabricantes de motos fazem seus manetes em alumínio, no entanto eles costumam usar uma pequena bucha de aço no local por onde o eixo passa, para não expor o alumínio à abrasão, desta forma, a durabilidade dos manetes é muito maior.

Manete comum

Mas este não é o caso da Suzuki. A manete não tem bucha de aço e o alumínio vai sofrer o desgaste diretamente.

Com cerca de 40 mil km, é perceptível que a folga da manete é bem maior do que quando a moto é nova, embora o funcionamento continue normal. É comum perceber, as vezes, dificuldade para ligar a moto, pois há um sensor de posição da embreagem, e a moto só liga com a embreagem acionada. Se a folga no manete for muito grande, este sensor não vai detectar a embreagem apertada, e a moto só vai funcionar se você forçar a posição do manete para cima ou para dentro, a fim de acionar o sensor.

Com 80 mil km de uso, o resultado é este aqui:

Manete novo e manete usado da DL650 V-Strom

Um manete novo, original, custa R$ 150,00 na rede autorizada. Tudo bem, uma peça que durou 80 mil km, não chega a ser algo impagável, mas eu acho caro por um pedaço de alumínio que não tem absolutamente nenhuma complexidade para produção. Não há opção no mercado paralelo.

Se o mesmo cuidado que os outros fabricantes adotam fosse adotado neste manete, ele não seria mais um motivo de preocupação para o proprietário – provavelmente por toda a vida útil da moto.

Solução para o problema: Não é um problema critico, como falei. Basta comprar um manete novo e pronto. A maioria das pessoas sequer vai permanecer com a moto por tempo suficiente para este tipo de problema aparecer, e provavelmente o segundo ou terceiro proprietário é que vai ter que se preocupar com isso. Se você for bom com usinagem (ou conhecer um bom torneiro mecânico), você mesmo pode fazer uma bucha de aço no manete, e ai ele vai durar para o resto da vida útil da moto.

Faróis e botão de partida

A DL650 possui um conjunto ótico duplo. São dois faróis, cada um com uma lâmpada H4 de 55/60W (55 Watts em luz baixa e 60 Watts em luz alta), totalizando portanto um consumo máximo de 120W. É um belo e excelente sistema de iluminação, que funciona muito bem para iluminar o seu caminho durante a noite.

A moto não possui interruptor de farol, o que significa que ao virar a chave para a posição ON, os faróis se acendem imediatamente. No entanto, quando você aperta o botão Start, os faróis se apagam. Isso acontece porque o botão controla duas funções distintas: Apagar o farol e acionar o motor de partida.

Apagar o farol para dar partida é uma boa prática, pois desta forma a bateria da moto sofre menos. Imagine ter que alimentar os 120W do farol, mais os 200W do motor de partida, tudo ao mesmo tempo? Pois é… Por este motivo os engenheiros fazem com que o botão de partida desligue os faróis: para poupar a bateria e o sistema elétrico da moto de um grande pico de consumo. Isso é uma prática comum a todos os fabricantes de motos, de todos os tamanhos (a minha Falcon já era assim, em 2006).

No entanto, os engenheiros da Suzuki não dimensionaram muito bem este sistema na V-Strom 650: O interruptor possui um pequeno contato de cobre, que é por onde passam todos os 120W de potência do farol. Esse contato de cobre obviamente fica aquecido com tamanha carga, e como ele é montado em uma peça plástica dentro do punho direito do guidão, ele derrete e, por fim, a peça para de funcionar depois de algumas centenas de acionamentos da partida.

Para piorar, o chicote elétrico do farol também não é dimensionado para esta carga, e os fios usados para o farol são de bitola mais fina do que o recomendado, bem como o conector que une o chicote frontal ao chicote central da moto. Tudo vai acabar derretendo e o resultado disso é você perceber que está andando com os faróis apagados.

Este problema já foi documentado em um fórum norte-americano, o Stromtrooper (aqui). Nos EUA uma empresa inclusive vende um “kit” de chicote alternativo para os faróis, que vai ligado diretamente na bateria da moto e que possui relês para controlar o acendimento das lâmpadas. A ideia é aliviar a carga do sistema original da moto para que ele não derreta.

Na minha opinião este é um erro de projeto dessa moto. A Suzuki deveria corrigir e fazer um Recall, pois toda moto vai, uma hora ou outra, apresentar este problema. Mas se nem nos EUA a Suzuki fez o recall, por aqui dificilmente vão fazer também.

Na minha moto o problema apareceu com cerca de 30 mil km, quando um dos terminais do conector central do chicote derreteu (este conector fica atrás do radiador, é preto, de 6 polos). Eu abri e fiz uma “ponte”, que resolveu o problema na hora. Com 50 mil km, quem derreteu foi o botão do Start (que inclusive ficou com o acionamento prejudicado). Eu estava no meio de uma viagem, a noite, e sem farol, tive que improvisar na hora. Deixei os fios do farol ligados direto (sem passar pelo botão) e quando cheguei em casa, instalei um interruptor de farol, até poder comprar um punho novo.

O botão derretido não pode ser comprado a parte, ele só é vendido junto com o punho direito completo. Na concessionária ele custa R$ 600,00 – só por encomenda – e não há opção paralela, nem mesmo no mercado internacional.

Solução para o problema: Neste caso, a solução é preventiva. Se os faróis da sua moto e o botão Start estão em bom estado, você pode pode fazer um sistema auxiliar de acionamento dos faróis usando relês. Um bom mecânico vai conseguir te ajudar com isso. Desta forma você vai aliviar a carga do sistema original, não vai mais derreter os contatos e nunca vai ter este tipo de problema.

Se o sistema já está comprometido, você vai ter que trocar o punho direito do guidão. Aproveite para fazer um novo chicote elétrico para o farol usando os relês para evitar problemas no futuro.

Conclusão

Como falei, minha intenção não é desmerecer a moto, que é sim de ótima qualidade e construção. A intenção é apenas relevar detalhes que podem ser do interesse dos proprietários e de possíveis interessados em adquirir uma V-Strom 650 usada.

A moto nunca apresentou problemas de injeção eletrônica, sensores, suspensão, chassi ou freios. É muito robusta, estável e confiável. Se observadas as dicas comuns de manutenção, e estes pequenos problemas relatados acima, é provável que tenha sua moto funcionando por muitos e muitos anos.

Este artigo vai sendo atualizado a medida que eu encontrar novos problemas. Por enquanto são só estes.

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